Contextualização
da Educação
Gilmar e Elaine Walker
Segundo
Philippe Perrenoud, nossa sociedade planetária não vai muito bem. Em todos os cantos encontramos miséria,
desnutrição, desigualdades, dominações, exclusões, barbáries, guerras, tráfico
de armas e drogas, comércio de mulheres e turismo sexual, poluição atmosférica,
esgotamento dos recursos naturais.
Nada disso
aconteceria se a escola fizesse o seu trabalho de educar as novas gerações de
modo a torná-las responsáveis, dando-lhes sentido de comunidade e partilha,
coibindo a violência. É isso o que se
ouve, mas a escola está na sociedade, é fruto dela e possui uma autonomia
relativa o que não a torna em um santuário a margem do mundo, sem margens com o
mundo. O sistema educacional não pode ser mais virtuoso do que a sociedade.
A formação
de sujeitos cidadãos é um compromisso não só da escola, mas é na escola que
existe um espaço para a discussão e fomentação de saberes e aprendizagens que
evidenciem a reflexão das contradições de nossa sociedade; visando uma maior
humanização dos sujeitos e a contraposição à lógica do capitalismo consumista e
seus valores.
A escola
abriga em seu seio forças favoráveis aos direitos, à justiça, aos princípios de
liberdade, de igualdade, e de fraternidade.
É papel dos educadores trabalhar com o princípio da construção social do
conhecimento; refletindo, de maneira dialógica, sobre os dois modelos de
sociedade; tentando compreender as contradições e valores presentes em nossa
sociedade.
Se pretendemos
que a escola trabalhe para desenvolver a cidadania, se acreditamos que isso não
é tão óbvio, nem tão simples, temos que pensar nas conseqüências. Isso não se faz sem abrir mão de algumas
prioridades e sem levar em conta o conjunto de alavancas disponíveis: os programas,
a relação com o saber, as relações pedagógicas, a avaliação, a participação dos
alunos, o papel das famílias na escola e o grau de organização da escola como
uma comunidade democrática e solidária.
A fim de
desenvolver a educação para a cidadania é preciso agir de modo a: permitir que
cada um construa seus conhecimentos e competências necessárias para fazer
frente à complexidade do mundo e da sociedade; utilizar os saberes para
desenvolver a razão, o respeito à maneira de ser e à opinião do outro; consagrar
tempo, meios, competências e inventividade didática em um trabalho mais
intensivo e continuado sobre valores e os conhecimentos que toda democracia,
todo contrato social pressupõe.
Isso tudo, e
muito mais, faz parte do ofício do mestre, que não é imutável e exige, cada vez
mais, que os educadores se atualizem para dar conta das novas mudanças, bem
como, dos novos e heterogêneos efetivos escolares que estão se apresentando em
sala de aula.
Já não há como
insistir na lógica do ensino tradicional quando o professor magistralmente dava
sua aula sem se importar com o processo de aprendizagem. Atualmente a heterogeneidade cultural de
nossos alunos é muito saliente o que não nos permite a utilização de tal
didática de padronização de ensino, já que cada aluno vivencia a aula em função
de seu humor e de sua capacidade de concentração e compreensão do mundo.
Considerando
tudo isso, a escola atual para ser mais eficaz exige dos mestres a criação de
situações de aprendizagem amplas, abertas, carregadas de sentido e que requerem
um método de pesquisa e resolução dos problemas nos quais os educandos operem
sobre o patrimônio cultural acumulado E, nesse sentido, as estratégias
metodológicas requerem o agir do educando sobre os conhecimentos acumulados
através ou não utilização dos recursos tecnológicos os quais podem contribuir
significativamente na potencialização do processo de ensino e aprendizagem. Práticas de cineclubes, caminhadas, viagens
de estudos, saraus, exposições fotográficas, seminários e teatros que envolvam
um ou mais componentes curriculares da área ou áreas são sempre bem vindas,
principalmente se fizerem parte de um projeto pedagógico anteriormente
planejado.
A pedagogia de
projetos permite que o educando aprenda fazendo e reconheça a própria autoria
naquilo que produz por meio de questões que lhe impulsionam a contextualizar
conceitos já conhecidos e descobrir outros, que emergem durante o
desenvolvimento do projeto.
Essa prática
pedagógica, ao trabalhar saberes que se vinculem aos saberes cotidiano e ao
patrimônio cultural acumulado da humanidade, estimula aos educandos a
entenderem melhor a vida humana em diferentes escalas: global, nacional,
regional e local; além de atender o requisito legal proposto pela LDB no seu
artigo 32, inciso I `a IV e os princípios da educação propostos pela UNESCO,
que são: aprender a conhecer; aprender a fazer; aprender a viver com os outros
e aprender a ser, certamente contribui para a formação de cidadãos críticos e
participativos que lutam para a construção de um mundo melhor.