sexta-feira, 6 de junho de 2008

A Essência e a Aparência em Obras de Machado de Assis

A Essência e a Aparência em Obras de Machado de Assis.
Proposta de didatização de Adaptações teatrais das seguintes obras:
A Cartomante
O Alienista
O Enfermeiro
Memórias Póstumas de Brás Cubas

A CARTOMANTE

Adaptação : Elaine Walker

Narrador Era uma Sexta-feira 13, mês de novembro do ano de 1869. Vocês já imaginaram há quanto tempo atrás essa história aconteceu? Há mais de 150 anos. Essa é uma história antiga. Aha....de amor e traição ahahah...
Nessa época, o Rio de Janeiro era a capital do Brasil e possuía os encantos das cidades do século XIX. Nessa atmosfera encantada, encontram-se casais de namorados, grupos de amigos, parentes, pois nessa época, visitar era moderno. E Camilo costumava “visitar” Rita. ( vocês sabem o que significa visitar, né?) Eles tinham uma amizade colorida.
Cenário: sala-de-estar
Camilo: (rindo)
- É minha querida, há mais coisas entre o céu e a Terra do que sonha nossa vã filosofia.
Rita - Vã filosofia? Por acaso estás citando Sheakspeare? Minha história é verdadeira.
Camilo: ( ri de novo) _ Perdão, mas não deixa de ser engraçado.
Rita — Pode rir, Camilo. Os homens são assim mesmo, não acreditam em nada. Mas eu pensei que você fosse diferente.
( Camilo pegou-lhe nas mãos, e olhou para ela sério e fixo)
Camilo – Juro, minha querida, te amo muito! Esses teus sustos são coisas de criança. Quando tiveredes receio consulte a mim mesmo. Que sou o melhor dos cartomantes que existem na face da terra. Além disso, é imprudente entrar em casas assim. Podem vê-la. E o que dirão então?
R - Tive muita cautela, ao entrar na casa.
C – É e onde fica essa casa?
R - Aqui perto, na Rua da Guarda Velha. Não passava ninguém nessa ocasião. Descansa. Eu não sou maluca.
(Camilo riu outra vez)
C- Tu crês nessas cousas?
R – Se você não acredita não precisa, mas ela adivinhou quase tudo. E agora estou mais tranqüila. (.....)
Narrador — O tema da conversa entre Camilo e Rita era a SORTE. Rita visitou uma cartomante e andava muito apreensiva com as coisas que essa lhe dissera. Apesar de casada com Vilela, Rita era apaixonada por Camilo. Por medo de serem descobertos, ela foi consultar uma Cartomante a fim de saber se não havia perigo de serem flagrados.
( Rita entra na sala da cartomante)
Carto- Boa tarde!
R – Boa tarde.
Carto- Em que posso servi-la?
R – Gostaria de ler a sorte.
Carto – Pois não. ( Pega do baralho e começa a meditar e falarJ
A senhora gosta de uma pessoa e tem medo de não ser correspondido e ainda por cima ser descoberta pelo seu marido.
R – Há risco de sermos descobertos?
Carto- Se quiseres saber disso em especial, é outra consulta.
R- Está bem. Aqui está. Eu pago.
Carto- Sorri. ( Olha para as cartas novamente e dizJ - Não te preocupes. Ele nem desconfia.
Narrador. Naquele mesmo dia, Vilela recebe um bilhete anônimo:
( Entra Vilela em cena, pega um bilhete do chão e lê:

Sua mulher está lhe traindo com o seu melhor amigo.

Narrador – Imediatamente Vilela chama uma empregada e manda um recado para Camilo. Esse, dirige-se para a casa do amigo, mas como o recado era de urgência, começa a desconfiar. Decide passar na casa da Cartomante.
Carto- Vejamos primeiro o que é que o traz aqui. O senhor tem um grande susto...
C- Sim, sim,
Carto- E quer saber se lhe acontecerá alguma cousa ou não..
C – Isso. Isso..
Carto - As cartas me dizem que é preciso muita cautela. Um amor tão lindo causa inveja.
C- A senhora restituiu-me a paz ao espírito. Muito obrigado e tchau.
Carto ( Dá-lhe a mão e diz) - Vá, vá, rapaz enamorado.
N- Ansioso, Camilo chegou a casa de Vilela.
C - Desculpa, não pude vir mais cedo; que há?
N- Vilela não lhe respondeu; tinha as feições decompostas; fez-lhe sinal, e foram para uma saleta interior. Entrando, Camilo não pôde sufocar um grito de terror: — ao fundo sobre o canapé, estava Rita morta e ensangüentada. Vilela pegou-o pela gola, e, com dois tiros de revólver, estirou-o no chão.

Pré-leitura da Cartomante

Levantamento de hipóteses sobre o título: A Cartomante. Do que o texto vai tratar.

Leitura Expressiva do texto:
Em grupos de cinco componentes distribuam os papéis e façam a leitura expressiva do texto. Socialização das leituras.
Outras atividades de leitura:

1. “Quando tiveredes receio consulte a mim mesmo”. A expressão em destaque é sinônima de todas as palavras das alternativas, exceto:
a) apreensiva b) dúvidas c)receosa d) certeza

2. “Por medo de serem descobertos, ela foi consultar uma Cartomante a fim de saber se não havia perigo de serem flagrados”. A expressão em destaque é sinônima de todas as palavras das alternativas, exceto:
a) pegos na hora de praticar o ato de delito
b) surpreendidos na hora de praticar um delito
c) descobertos da prática do delito
d) compreendidos
3. Qual a temática do texto?
4. Qual o objetivo do autor?
5. Quem é o autor do texto?
6. “Nessa época, visitar era moderno. E Camilo costumava “visitar” Rita. Eles tinham uma amizade colorida.” Por que a expressão visitar está em destaque? O que significa?
7. “Nessa época, visitar era moderno. E Camilo costumava “visitar” Rita. Eles tinham uma amizade colorida.” Quais os termos referidos anteriormente pela expressão em destaque.
8. O texto possui elementos narrativos. Quais são eles e como se manifestam no texto.
9. “ - Não te preocupes. Ele nem desconfia.” Qual o termo referido anteriormente pela expressão em destaque.
10. “Vilela pegou-o pela gola, e, com dois tiros de revólver, estirou-o no chão.” Quais os termos referidos anteriormente pelas Expressões em destaque.
11. “- É minha querida, há mais coisas entre o céu e a Terra do que sonha nossa vã filosofia”.
Rita - Vã filosofia? Por acaso estás citando Sheakspeare? Minha história é verdadeira. Por que aparece a citação de Hamlet, como se chama esse recurso de diálogo entre outras obras?

Análise lingüística:

1. “ Naquele mesmo dia, Vilela recebe um bilhete anônimo:” As expressões em destaque dá idéia de:
a) lugar b) modo c) tempo d)espaço

2. Passe o fragmento a seguir para o discurso direto. “– Imediatamente Vilela chama uma empregada e manda um recado para Camilo. Esse, dirige-se para a casa do amigo, mas como o recado era de urgência, começa a desconfiar. Decide passar na casa da Cartomante”

3. .Passe o fragmento a seguir para o discurso indireto: “Em que posso servi-la?
R – Gostaria de ler a sorte.
Carto – Pois não. ( Pega do baralho e começa a meditar e falarJ
A senhora gosta de uma pessoa e tem medo de não ser correspondido e ainda por cima ser descoberta pelo seu marido.”

Produção textual

1. Imagine o que Vilela sentiu e pensou e faça um monólogo
2. Imagine o que Camilo sentiu e pensou e faça um monólogo.
3. Imagine que antes de ser assassinada Rita tenha encontrado o bilhete anônimo e faça um monólogo do que ela sentiu e pensou.
4. Faça um novo final para a história.
5. Imagine que Camilo tenha procurado um padre depois de ter ido à cartomante. Depois de ouvi-lo em confissão o padre fez um sermão sem citar nomes contestando as atitudes de certos paroquianos que consultam cartomantes e não são amigos verdadeiros. Como seria o teor desse sermão.
6. Imagine que Rita e Vilela tenham discutido antes do desfecho final e descreva com diálogos o teor dessa conversa.
7. Fazer o resumo da cartomante
8. Quem foi Machado de Assis. Faça uma pesquisa sobre esse famoso escritor brasileiro.
9. Essa obra se enquadra em que período literário. Quais as principais características desse período.
10. Faça uma resenha crítica tentando mostrar como a questão da essência e aparência faz parte da temática machadiana
11. Faça uma carta endereçada a um amigo falando sobre a obra: A Cartomante.






Texto 2: O Alienista de Machado de Assis.

Adaptação Elaine Walker

Certa feita apareceu na vila de Itaguaí um médico, de 40 anos de idade chamado Simão Bacamarte. Casou-se com uma viúva, de 25 anos, conhecida como D. Evarista da Costa e Mascarenhas, a qual ele, enquanto médico, supunha possuir todas as condições fisiológicas e anatômicas possíveis para procriar. Passados os cinco anos sem que um rebento aparecesse passou a aconselhar à mulher um regime alimentar especial, mas nada surtiu efeito. Dedicou-se então ao estudo da loucura. Ao final da tarde, reunia-se com os amigos no bar para beber e conversar:
Simão —A saúde da alma .e a ocupação mais digna do médico.
Crispim Soares -boticário—Do verdadeiro médico
Simão – Se a vereança de Itaguaí topar, faço uma casa e interno nela todos os loucos da cidade e da região.
Vereador- O Dr vai querer colocar todos os loucos juntos?
Simão – Vou. Eu dou conta deles, basta os vereadores e os municípios envolvidos me repassarem algumas verbas para a manutenção da casa.
N – Padre Lopes ficou preocupado e foi procurar D. Evarista:
P- —Olhe, D. Evarista, , veja se seu marido dá um passeio ao Rio de Janeiro. Isso de estudar sempre, não é bom. E agora, essa infinidade de cálculos para a construção da casa. Isso vira o juízo de qualquer um.
Evarista – Pode deixar, padre! Falarei com ele da necessidade de tirarmos umas férias. Depois dessa votação para aprovação de verbas municipais, certamente poderemos nos distrair um pouco. D. Evarista foi ter com o marido:
E – Querido! Estou com desejos!
S- Desejos? Por acaso estás grávida?
E- Não! Não meu amor! Não estou grávida, apenas tenho desejos de ir ao Rio de Janeiro e de comer de tudo que me oferecessem.
S – Ah! Minha querida. Terei muito trabalho com a casa verde, que já está quase concluída. Vá ao Rio de Janeiro. Convide a titia para lhe acompanhar.

N – Três dias depois de concluída a casa verde enquanto estava no botequim de seu Crispim, Simão fez uso da palavra e disse:
Simão -A caridade é o que move o meu coração. Sigo o dito por São Paulo aos Coríntios: “ Se eu conhecer quanto se pode saber e não tiver caridade, eu nada sou”. O meu objetivo na casa verde é estudar profundamente a loucura.
Crispim —Um excelente serviço.
Simão - Sem este asilo, teria muito pouco campo de trabalho para os meus estudos.
Crispim —Certamente, com o asilo o campo é muito maior. Muito maior!

Narrador - E tinha razão. De todas os cantos apareceram os loucos, encheram as dependências da casa verde. O padre Lopes confessou que não imaginava haverem tantos loucos nas redondezas. E especialmente alguns casos o intrigavam.
Padre Lopes –O quê! Até o Manequinho você internou. Ele é muito saudável! Vi-o outro dia jogando peteca na rua!
Simão – Pois é, padre! Pra tu veres. Quem vê cara não vê coração. Ele está doido varrido!
Padre- Não diga! Que pena! Mas é tanta gente para internar.
Simão – È verdade o que vossa reverência diz, mas todos os dias me aparecem uns quatro ou cinco.
Padre- Isso parece com a confusão das línguas na torre de Babel. Venha nos visitar e verás com os próprios olhos, padre!

N - Os loucos de fato eram uns três ou quatro. O primeiro, um Falcão, rapaz de vinte e cinco anos, supunha‑se estrela‑d’alva, abria os braços e alargava as pernas, para dar‑lhes certa feição de raios, e ficava assim horas esquecidas a perguntar se o sol já tinha saído para ele recolher‑se. O outro andava sempre, sempre, sempre, à roda das salas ou do pátio, ao longo dos corredores, à procura do fim do mundo. Era um desgraçado, a quem a mulher deixou. Descobriu-se traído e seguiu ao encalço dos traidores matando-os com os maiores requintes de crueldade.
O terceiro tinha a mania de narrar a sua arvore genealógica às paredes.
Louco 3 —Deus engendrou um ovo, o ovo engendrou a espada, a espada engendrou Davi, Davi engendrou a púrpura, a púrpura engendrou o duque, o duque engendrou o marquês, o marquês engendrou o conde, que sou eu.

(Dava uma pancada na testa, um estalo com os dedos, e repetia cinco, seis vezes seguidas·).

—Deus engendrou um ovo, o ovo, etc.

n- O Dr Simão teve uma grande paciência com todos os hospedes da casa verde. Inicialmente classificou-os conforme o grau de tolerância: os furiosos e os mansos. Isso feito, começou a estudar-lhes os hábitos e gestos. Todo esse trabalho roubava-lhe o tempo. Mal se dirigia a esposa a qual se sentiu abandonada e reclamou:
Evarista – Estou feito viúva de marido vivo.
Simão – É verdade, estou muito atarefado. Consentirei que vás ao Rio de Janeiro.
E- Ao Rio de Janeiro! Sozinha! Nunca! Terás que me acompanhar.
S- Impossível. Irás com tua tia.
E- Há! Mas o dinheiro que se precisará gastar!
S- —Que importa? Temos ganhado muito.
E - —Quem diria que meia dúzia de lunáticos fossem lhe render tanto dinheiro. Se for assim, vou...
Três meses depois, viajou na companhia da tia. Simão dedicou-se mais ainda ao estudo da demência. Internou na casa verde todos os políticos que lhe contrariam na idéia da construção da casa verde. Internou um dos vereadores, um professor e assim por diante. O vigário novamente lhe perguntou sobre as internações e suas justificativas, mas o homem estava irredutível. Quem lhe opunha era internado. Quando sua esposa voltou de viagem, Simão achou-a doente mental e internou-a na casa verde, sem escrúpulos. Isso provocou indignação na população que nada fez para lhe contestar.

Padre - Você, que é íntimo dele, não nos podia dizer o que há, o que houve, que motivo...
Crispim – Ele tem motivos para interná-la.

n- Algum tempo depois internou outras pessoas sem problemas aparentes com a debilidade mental. O amigo Crispim Soares, o padre e até o prefeito da cidade. Sem oposição mandava e desmandava na cidade. Até que um dia chegou à seguinte conclusão:

-Será possível que todos nessa cidade são loucos? Ou serei eu o único louco da cidade?
N- Então concluiu que o único doente da cidade era ele e liberou os demais e internou-se na casa verde definitivamente.

Quem é louco realmente? Nessa nossa sociedade capitalista louco é aquele que tudo faz para estar na moda ou o que pensa diferente se contrapondo a lógica que aí está?

Pré-leitura de O Alienista

Levantamento de hipóteses sobre o título: O Alienista. Do que o texto vai tratar.

Leitura Expressiva do texto:
Em grupos de 8 componentes distribuam os papéis e façam a leitura expressiva do texto. Socialização das leituras.

Outras atividades de leitura:

1. Indique a alternativa cuja idéia não está contida no texto:
a) os loucos de fato, e que foram internados, eram uns três ou quatro.
b) Entre outras pessoas Simão internou a própria mulher
c) Simão considerou-se uma das únicas pessoas de Itaguaí com plena saúde mental.
d) Todos os adversários políticos foram internados na Casa Verde
2. O objetivo do texto é
a) refletir sobre os comportamentos e atitudes evidentes na sociedade atual;
b) Fazer um estudo sobre a loucura
c) Discutir sobre a loucura
d) Indicar o verdadeiro local onde devem ficar os loucos
3. Indique a alternativa cuja idéia não está contida no texto.
a) Simão costumava vangloriar-se da importância de seu trabalho.
b) Simão teve diversos filhos
c) O 1º louco de verdade chamava-se Falcão
d) Sem oposição mandava e desmandava na cidade

4. O vigário novamente lhe perguntou sobre as internações e suas justificativas, mas o homem estava irredutível A expressão em destaque pode ser substituída por todas as alternativas, exceto:
a) inflexível b)compreensível c) intransigente d) intolerante.

5. A verdadeira intenção de Simão Bacamarte e que está implícita com a leitura do texto é;
a) estudar a loucura;
b) internar todos os loucos numa mesma casa
c) conseguir dinheiro com a internação de muitos loucos além de ter material para estudo
d) contribuir com a sociedade, livrando-a dos loucos.

6. O texto O Alienista de Machado de Assis é um conto cuja estrutura textual possui características:
a) descritivas b) opinativas c) narrativas d) fabulística

7. O canal onde veicula esse tipo de texto é:
a) jornal b) internet c) revista d) livro.

8. Normalmente os textos dialogam entre si. Ao lermos um texto temos referências de outro ou outros textos. Isso se chama intertextualidade. Existe uma relação de semelhança entre o texto a Cartomante e o Alienista?


Análise lingüística:

1. . Indique a frase empregada no sentido denotativo
a) Isso vira o juízo de qualquer um.
b) Estou feito viúva de marido vivo.
c) O meu objetivo na casa verde é estudar profundamente a loucura.
d) Quem vê cara não vê coração
2. Explique o sentido de todas as frases da questão anterior.
3. Assinale a alternativa em que não há relação de coerência entre a frase e o que é dito posteriormente.
a) A caridade é o que move o meu coração.- A expressão em destaque funciona como pronome demonstrativo, pois pode ser substituído por aquilo.
b) “ Se a vereança de Itaguaí topar, faço uma casa e interno nela todos os loucos da cidade e da região.” – a expressão em destaque funciona como pronome pessoal do caso oblíquo.
c) “ Se a vereança de Itaguaí topar, faço uma casa e interno nela todos os loucos da cidade e da região.” - A expressão em destaque funciona como artigo definido, pois acompanha o substantivo loucos.
d) “Inicialmente classificou-os conforme o grau de tolerância” – A expressão em destaque funciona como pronome pessoal do caso oblíquo e se refere aos loucos.
4. Assinale a alternativa em que não há relação de coerência entre a frase e o que é dito posteriormente.
a) “Quando sua esposa voltou de viagem, Simão achou-a doente mental e internou-a na casa verde, sem escrúpulos.” - A expressão em destaque estabelece na frase relação de lugar e é uma conjunção adverbial de lugar.
b) Quando “sua esposa voltou de viagem, Simão achou-a doente mental e internou-a na casa verde, sem escrúpulos.” - A expressão em destaque funciona como pronome pessoal do caso oblíquo, pois refere-se a esposa de Simão dona Evarista.
c) “ Então concluiu que o único doente da cidade era ele e liberou os demais e internou-se na casa verde definitivamente” – a expressão em destaque é um pronome pessoal do caso reto e refere-se ao Simão Bacamarte.
d) “Isso parece com a confusão das línguas na torre de Babel. Venha nos visitar e verás com os próprios olhos, padre!” – A expressão em destaque funciona com pronome demonstrativo

5. Assinale a alternativa em que não há relação de coerência entre a frase e o que é dito posteriormente.
a) Então concluiu que o único doente da cidade era ele e liberou os demais e internou-se na casa verde definitivamente – A expressão em destaque é uma conjunção integrante, pois está antecedida de verbo.
b) Isso provocou indignação na população que nada fez para lhe contestar. – A expressão em destaque funciona como pronome relativo, pois está antecedido de substantivo e poderia ser substituída por a qual.
c) O padre Lopes confessou que não imaginava haverem tantos loucos – A expressão em destaque é um pronome interrogativo, pois está no início de uma pergunta.
d) Casou-se com uma viúva, de 25 anos, conhecida como D. Evarista da Costa e Mascarenhas, a qual ele, enquanto médico, supunha possuir todas as condições fisiológicas e anatômicas possíveis para procriar. – A expressão em destaque funciona como preposição, pois não pode ser substituída por a fim de

Produção Textual
1. Aparentemente preocupado com a questão da sanidade mental Simão Bacamarte construiu a casa verde onde internou todos os loucos e os tidos como loucos. Imagine que na essência a intenção verdadeira tenha sido a de conseguir verbas públicas para enriquecer. Imagine o que Simão pensou ao longo do seu projeto, desde o início até o final
2. Faça o resumo da história.
3. “Estou feito viúva de marido vivo”. Imagine o que D. Evarista decidiu fazer para resolver essa questão e faça um texto narrativo tentando evidenciar as causas que levaram-na ao hospício.
4. Imagine o que antes de internar o amigo Crispim tenha havido uma discussão. Relate o teor dessa conversa, usando diálogos.
5. Imagine que Crispim tenha lhe dito que o único louco da Cidade era o Simão. Pensativo ele ficou com isso. Faça um monólogo do que Simão pensou antes de liberar todos os loucos e internar-se pessoalmente na casa verde.
6. Imagine que o padre tenha feito um sermão tentando conclamar a comunidade para se unir ante os absurdos cometidos por Simão o qual recebeu muito poder e cometeu diversos abusos de autoridade. Qual seria o teor desse discurso.
7. Imagine a situação anterior que levou o segundo louco a internação. Conte a sua história.

Texto 3
O enfermeiro
Narrador 1. – Essa história que vamos representar é uma adaptação do conto de Machado de Assis, chamado: O enfermeiro. Nela o autor busca desvelar a verdadeira condição humana. A principal temática de suas obras é a essência e a aparência. Um sujeito aparentemente bom pode esconder dentro de si uma alma assassina.
N – No ano de 1860, no mês de agosto, recebeu o padre de Niterói uma carta de um colega do interior solicitando a indicação de um enfermeiro que quisesse vir ao interior, cuidar do coronel Felisberto, mediante um bom ordenado.
E – Aceitei a indicação, pois precisava muito do dinheiro; além disso, já estava cheio de copiar fórmulas religiosas em troca de casa e comida. Segui para a vila. Só quando lá cheguei que soube da má fama do paciente. Diziam-me que ele consumia mais enfermeiros do que remédios.Respondi que não tinha medo de gente sã, menos ainda de doentes; e sou bastante paciencioso.
E – Bom dia.
c- Bom dia.
E – Como vai o senhor?
c- Mal, mal, acho que não duro muito. Finalmente terei alguém competente para me cuidar. Sabe os outros enfermeiros não prestavam: dormiam no serviço, respondiam, e andavam de fara com as empregadas. Dois deles eram até gatunos.
C -— Você é gatuno?
E - Não, senhor.
c- - Qual o seu nome?
E - Procópio José Gomes Valongo.

N- Viveram por oito dias em lua de mel.Com uma relação tranqüila. Porém passado esse período começaram- se as discussões. O coronel não deixava o enfermeiro nem dormir, e oferecia-lhe constantemente uma chuva de impropérios. Tudo Tudo impertinência da moléstia e temperamento. A moléstia era um rosário. Padecia de aneurisma, de reumatismo e de três ou quatro afecções menores. Tinha perto de sessenta anos, e desde os cinco toda a gente lhe fazia as vontades. Se fosse só rabugento, vá, mas ele era também mau, deleitava-se com a dor e a ação dos outros. No fim do mês o enfermeiro estava determinado em ir embora Só aguardava ocasião que não tardou. Um dia por não estar o enfermeiro imediatamente disponível para fomentar-lhe as pernas , tascou-lhe, o coronel uns dois ou três golpes de bengala.
c- Procópio, venha até aqui, imediatamente.
E- Já vou, coronel, Já vou.
C- Seu incompetente. Dorminhoco. Que estavas fazendo?
E- Isso, já foi demais. Estou me demitindo. Vire-se
C- Por favor. Não vá. Desculpa-me. Isso são coisas de um velho doente. Estou na dependura, Procópio. Não posso viver muito tempo. Estou com o pé na cova. E você há de ir ao meu enterro, Procópio; não o dispenso por nada. Há de rezar ao pé da minha sepultura. Se não for (acrescentou rindo), eu voltarei de noite para puxar as suas pernas. Você crê em a1ma do outro mundo, Procópio?
E— Qual o quê!
C— E por que é que não há de crer, seu burro?
N - Eram assim as pazes; imagine a guerra. Coibiu-se das bengaladas; mas as injúrias ficaram cada vez piores. Com o tempo Procópio foi calejando: burro, pedaço d’asno, idiota, moleirão. Estava sozinho para um dicionário inteiro. Resolveu sair, mas o vigário pediu para que ficasse até arranjar substituto. E assim foi ficando. As relações foram se tornando cada vez mais melindrosas. . O coronel estava pior, fez testamento, descompôs o tabelião . No princípio de agosto, Procópio resolveu, definitivamente, sair; o vigário e o médico, aceitando as razões, pediram-lhe para que ficasse algum tempo mais. Concedeu-lhes um mês; no fim de um mês iria embora, qualquer que fosse o estado do doente. O vigário tratou de procurar substituto. Mas na noite de vinte e quatro de agosto, o coronel teve um acesso de raiva.
c_ Seu vadio, dormindo em serviço. Pago-lhe bem para me cuidar. Vou te dar um tiro. Onde já se viu me trazer um mingau frio desse jeito. Incompetente.
N- Passaram-se algumas horas e Procópio lia um livro de bolso a uma pequena distância da cama, pois teria que lhe dar a meia noite o remédio. Porém, o cansaço fê-lo dormir. Acordou com os gritam do coronel, que lhe atirou uma moringa. Não teve tempo de se desviar
E – Seu calhorda, desgraçado. Agora, você me paga.
Luta
E – Meus Deus! Matei o homem. O que é que eu faço!. Por favor, acorde. Não. Não pode ser. “Maldita a hora em que aceitei semelhante coisa!” Também o padre, o médico, o vigário tinham que me obrigar a ficar aqui. Maldição. Agora vou ser punido. Meu Deus! Está amanhecendo. O que é que eu faço. Já sei. Vou chamar o criado que e cego, vou vesti-lo disfarçando a nossa luta e vou comunicar o vigário da morte do coronel. Depois, vou embora.....Não. Não. Não posso ir embora. Isso vai levantar suspeita sobre mim. Vou ficar.
n_ Preparou o defunto com o auxílio do criada Tinha medo de que o descobrissem, mas buscou se controlar:
Povo — Coitado do Procópio! Apesar do que padeceu, está muito sentido.
N- Pareceu-lhe ironia; estava ansioso por ver tudo acabado. Saíram à rua. A passagem da meia-escuridão da casa para a claridade da rua deu-lhe um grande abalo; receou que fosse impossível ocultar o crime. Meteu os olhos no chão, e foi andando. Quando tudo acabou, respirou. Estava em paz com os homens. Não o estava com a consciência e as primeiras noites foram naturalmente de desassossego e aflição. Logo que pode mudou-se para o Rio de Janeiro.
Povo—Deixa lá o outro que morreu. Não é caso para tanta melancolia.
E- Coitado do Coronel um homem tão bom
N – Após alguns dias recebeu Procópio uma carta do Escrivão dizendo que o coronel o havia deixado como único herdeiro. Inicialmente, pensou em recusar a herança, porém, pensou que isso levantaria suspeita.
E- Já sei. Vou distribuir tudo aos pobres.
Irmão— Quanto tinha ele?
E — Não sei, mas era rico.
I— Realmente, provou que era teu amigo.
E— Era... era...
N- Assim a caminho da vila Procópio ia se preparando para receber a herança.
E – Não matei o homem. Ele ia morrer mesmo. Eu apenas me defendi. Ele ia me matar. Ele estava mesmo muito doente, ele mesmo dizia que estava aos pés da cova.
N – Assim o padre da vila lhe recebeu:
Padre: - Teus sacrifícios foram recompensados. O coronel era um homem bom.
E— Sem dúvida.
Padre – Fostes muito dedicado.
E – Não fiz mais do que minha obrigação
P— Falando a verdade o coronel era um diabo.
E – Era a doença.
N- Passaram-se os meses e Procópio converteu os títulos da herança em dinheiro.
E – Eu mereço ficar com esse dinheiro. Afinal, comi o pão que o diabo amassou com o coronel. Não vou distribuir todo esse dinheiro aos pobres. Eu não o matei. Foi apenas uma fatalidade. A verdade é que ele iria morrer mesmo. Vou mandar rezar-lhe uma missa. Tenho direito a essa herança.

Pré-leitura de 0 Enfermeiro
Levantamento de hipóteses sobre o título: O Enfermeiro. Do que o texto vai tratar.

Leitura Expressiva do texto:
Em grupos de 08 componentes distribuam os papéis e façam a leitura expressiva do texto. Socialização das leituras.

Outras atividades de leitura:

Indique a alternativa em que não há relação de coerência entre a frase e o que é dito posteriormente.
a) “O coronel não deixava o enfermeiro nem dormir, e oferecia-lhe constantemente uma chuva de impropérios” As expressões em destaque estão em sentido conotativo e significam um monte de palavrões.
b) Coibiu-se das bengaladas; mas as injúrias ficaram cada vez piores. Com o tempo Procópio foi calejando: burro, pedaço d’asno, idiota, moleirão. A expressão em destaque significa livrou-se
c) Coibiu-se das bengaladas; mas as injúrias ficaram cada vez piores. Com o tempo Procópio foi calejando: burro, pedaço d’asno, idiota, moleirão. A expressão em destaque significa carinho.
d) Coibiu-se das bengaladas; mas as injúrias ficaram cada vez piores. Com o tempo Procópio foi calejando: burro, pedaço d’asno, idiota, moleirão. A expressão em destaque significa tornar-se duro, insensível

2. Indique a alternativa que não está contida no texto:
a) O enfermeiro não matou o coronel.
b) O coronel era um homem muito difícil
c) A relação entre o coronel e o enfermeiro foi tranqüila só nos primeiros oito dias.
d) O enfermeiro se tornou herdeiro do coronel.

3. Indique a alternativa cuja idéia está contida no texto.
a) o coronel tratava bem os enfermeiros
b) O coronel era um homem muito querido
c) O coronel deixou o enfermeiro como herdeiro
d) O coronel teve morte natural.
4. Quanto à morte do coronel, indique a alternativa que não condiz com o texto:
a. o coronel foi assassinado
b. a comunidade não percebeu o crime.
c. O assassino foi descoberto
d. Procópio assassinou o coronel em um acesso de raiva.

5. Quanto ao assassino, indique a alternativa que não condiz com o texto:
a) Movido pelo impulso, acabou matando o coronel
b) Matou propositalmente o coronel para ficar com a herança
c) Após o enterro, estava em paz com os homens, mas não com a consciência.
d) Justificou-se e ficou com a herança do coronel

6. Por que Procópio estava ansioso por ver tudo acabado?

7. Esse conto de Machado de Assis possui estrutura narrativa. Identifique os principais elementos constitutivos de uma narrativa e como eles se evidenciam no texto.

8. Indique a frase que melhor justifica o assassino
a) Eu mereço ficar com esse dinheiro
b) Comi o pão que o diabo amassou
c) Eu não o matei, foi apenas uma fatalidade
d) Ele ia morrer mesmo.

9. Qual o objetivo do autor do texto:
a) Revelar o verdadeiro assassino
b) Mostrar a verdadeira essência do ser humano
c) Questionar as atitudes do Procópio
d) Refletir sobre as enfermidades humanas

10. Indique a alternativa cuja frase encontra-se em sentido conotativo da língua.
a) “Eu não o matei”
b) “Foi uma fatalidade”
c) “Comi o pão que o diabo amassou”
d) “A verdade é que ele iria morrer mesmo.”

11. Indique a alternativa cuja frase encontra-se em sentido denotativo da língua
a) “Diziam-me que ele consumia mais enfermeiros do que remédios.”
b) “Viveram por oito dias em lua de mel”
c) “Comi o pão que o diabo amassou”
d) “Tenho direito a essa herança”

Análise Lingüística de o enfermeiro.

1. Assinale a alternativa em que não há relação de coerência entre a frase e a alternativa posterior.
a) Recebeu o padre de Niterói uma carta de um colega do interior solicitando a indicação de um enfermeiro que quisesse vir ao interior, cuidar do coronel Felisberto – A expressão em destaque na frase funciona como pronome relativo e poderia ser substituído por o qual.
b) Diziam-me que ele consumia mais enfermeiros do que remédios – A expressão em destaque funciona como conjunção integrante, pois é antecedida de verbo.
c) Um dia por não estar o enfermeiro imediatamente disponível para fomentar-lhe as pernas – A expressão em destaque funciona como conjunção adverbial final e pode ser substituído por a fim de.
d) Aceitei a indicação, pois precisava muito do dinheiro . A expressão em destaque funciona como conjunção adversativa e pode ser substituída por entretanto

Produção Textual
1. Ao modo machadiano, imagine que o Coronel Felisberto tenha cumprido sua promessa de atormentá-lo todas as noites. Relate esses pesadelos em uma narrativa.
2. Atormentado pelas aparições noturnas, Procópio fica desesperado. Imagine o que ele pensa e sente e faça um monólogo.
3. Imagine que os padres mantenham correspondência regular entre si. Imagine o teor da carta que o padre do interior escreveu para o padre da capital tentando conseguir substituto para Procópio, imagine o que ele escreveu, qual o teor dessa carta.
4. Imagine qual seria a história caso o assassinato fosse descoberto. Como seria essa nova história.
5. Imagine que, durante o velório, duas vizinhas tenham visto as marcas do estrangulamento e transcreva o possível diálogo que se travou entre as duas.
6. Imagine o teor do sermão do padre durante o enterro
7. Imagine o teor do sermão do padre durante o enterro

Texto 4
Teatro de Memórias Póstumas de Brás Cubas de Machado de Assis.
(Um aluno entra em cena e lê:
AO VERME QUE PRIMEIRO ROEU AS FRIAS CARNES DO MEU CADÁVER
DEDICO COMO SAUDOSA LEMBRANÇA ESTAS MEMÓRIAS PÓSTUMAS) Esse livro parece bom. Vejamos o que diz mais adiante o escritor:
Caro leitor confesso que não sou nenhum Stendhal, mas espero que pelo menos alguns poucos leitores leiam esse livro. Escrevi-o com a pena da galhofa e a tinta da melancolia. Uns poderão gostar dele, outros dirão que não passa de romance. Mas do fundo do coração espero agradá-lo ou então, simplesmente, adeus.
Cena 2. Um defunto deitado dentro de um caixão ao redor as pessoas conversam, ... Dali a pouco o defunto senta e diz:
- ALGUM TEMPO hesitei se devia abrir estas memórias pelo princípio ou pelo fim, isto é, se poria em primeiro lugar o meu nascimento ou a minha morte. Como normalmente se começa pelo nascimento decidi adotar um método novo: minha morte.
Eu Brás Cubas morri, às duas horas da tarde de uma sexta-feira do mês de agosto de 1869, na minha bela chácara de Catumbi. Tinha uns sessenta e quatro anos, rijos e prósperos, era solteiro, possuía cerca de trezentos contos e fui acompanhado ao cemitério por onze amigos. Onze amigos!
Verdade é que não houve muitos comunicados, além disso, chovia muito na hora do enterro. Não sei como, mas um desses amigos quis fazer uso da palavra naquele momento e fez um discurso inflamável.
( Brás deita-se novamente e o amigo aproxima-se do caixão e diz):
- Vocês que conheceram esse querido amigo sabem que sua partida é uma perda irreparável e até a natureza esta chorando em função de tamanha perda. É um louvor sublime ao nosso ilustre finado” ( aplausos – o morto senta no caixão e diz:)
- Bom e fiel amigo! Não, não me arrependo das vinte apólices que lhe deixei.
Assistiam também ao meu funeral três distintas senhoras: Minha irmã, minha sobrinha e a terceira, que apesar de não ser parenta, padeceu muito mais a minha partida. Não que chorasse convulsivamente, mas dizia baixinho:
-"Morto! morto!".
Morri de pneumonia. Já lhes conto o caso: um dia de manhã, estando a passear na chácara? Tive a idéia de criar um medicamento destinado a aliviar a melancolia da humanidade tratava-se de um emplastro anti-hipocondríaco. Escrevi extensa carta ao governo chamando a atenção do governo para esse resultado, verdadeiramente cristão. É claro, e agora que estou do outro lado da vida posso confessar, que ganharia grandes vantagens financeiras caso o governo comprasse o tal remédio para distribuir a população. Orgulhava-me de ver no rótulo das embalagens as três palavras: Emplasto Brás Cubas. Mas “Quem não sabe que ao pé de cada bandeira grande, pública, ostensiva, há muitas vezes várias outras bandeiras modestamente particulares, que se hasteiam e flutuam à sombra daquela, e não poucas vezes lhe sobrevivem?”
Mas voltando a minha morte. Estava eu ocupadíssimo em preparar e apurar a minha invenção quando recebi em cheio um golpe de ar; adoeci logo, e não me tratei. Tinha o emplasto no cérebro. Não pensava em mais nada, achava-me imortal. No outro dia estava pior; tratei-me enfim, mas incompletamente sem método, nem cuidado, nem persistência; tal foi a origem do mal que me trouxe à eternidade. Sabem já que morri numa sexta-feira, dia aziago, e creio haver provado que foi a minha invenção que me matou.
Ainda antes de morrer me despedi de uma mulher, muito discreta, que serviu-me de amante por muitos e muitos anos e que finalmente visitou-me quando eu já estava morrendo. Lembro do dia em que apareceu á porta do meu quarto. Chamava-se Virgília. Estava pálida, comovida, trajada de preto. Fazia dois anos que não nos víamos mais. Fiquei muito feliz. Voltou-me, por alguns instantes, a chama da felicidade de outrora, mas logo a realidade dominou o presente. Disse-lhe:
- Anda visitando os defuntos?
- Ora, defuntos! ( E depois de me apertar as mãosJ Ando a ver se ponho os vadios para a rua.
- Minha Querida! Estou para morrer.
- Morrer, onde já se viu. Olhe que não volto mais. Morrer! Todos nós havemos de morrer; basta estarmos vivos. ( E vendo o relógio) Jesus! São três horas. Vou-me embora.
- Já?
- Já; virei amanhã ou depois.
- Não sei se faz bem, retorqui; o doente é um solteirão e a casa não tem senhoras...
- Sua mana?
- Há de vir cá passar uns dias, mas não pode ser antes de sábado.
- Sabes de uma coisa então virei cuida-lo. Estou velha e ninguém há de reparar em mim. Mas para cortar as dúvidas trarei me filho para morar conosco.
Narrador- Assim se fez. Nhonhô era um bacharel, único filho de Virgília. Aos cinco anos ele fora cúmplice inconsciente dos amores de Virgília e Brás.
Brás- Depois disso, apesar dos cuidados e do amor que me acalentava começaram os delírios nos quais pude ver com clareza os dois lados da vida: delícias e misérias , mas de repente ambas se misturavam-se e eu via o amor multiplicando a miséria e a, a cólera, a inveja, a cobiça, a ambição , a fome, a melancolia, a riqueza , e tantos outros sentimentos que fazem parte da condição humana.
. Vejam: o meu delírio começou em presença de Virgília; Virgília foi o meu grão pecado da juventude; não há juventude sem meninice; meninice supõe nascimento; e eis aqui como chegamos nós, sem esforço, ao dia 20 de outubro de 18 05, em que nasci.
NAQUELE DIA , a árvore dos Cubas brotou uma graciosa flor. Nasci; recebeu-me nos braços a Pascoala, insigne parteira minhota, que se gabava de ter aberto a porta do mundo a uma geração inteira de fidalgos. Não é impossível que meu pai lhe ouvisse tal declaração; creio,todavia, que o sentimento paterno é que o induziu a gratificá-la com duas meias dobras. Lavado e enfaixado, fui desde logo o herói da nossa casa. Cada qual prognosticava a meu respeito o que mais lhe quadrava ao sabor. Meu tio João, o antigo oficial de infantaria? achava-me um certo olhar de Bonaparte, cousa que meu pai não pode ouvir sem náuseas; meu tio Ildefonso, então simples padre, farejava-me cônego.
Meu pai respondia a todos que eu seria o que Deus quisesse; e alçava-me ao ar, como se intentasse mostrar-me à cidade e ao mundo; perguntava a todos se eu me parecia com ele, se era inteligente, bonito.E foi assim que cresci; cresci naturalmente como crescem as magnólias Desde os cinco anos merecera eu a alcunha de "menino diabo"; e verdadeiramente não era outra cousa; fui dos mais malignos do meu tempo, arguto, indiscreto, traquinas e voluntarioso.

Na minha educação sofri influencia de vários parentes, mas não esqueci de um tio que sempre me levava para passear e na adolescência. Levou-me num passeio para ver as pernas das moças lavadeiras. Mas complicado foi quando me apaixonei por uma cortesã chamada Marcela a qual amou-me durante quinze meses e onze contos de réis;
nada menos. Meu pai, logo que soube dos onze contos,
sobressaltou-se deveras; achou que o caso excedia as raias de um
capricho juvenil. Então disse-me:Deita

Pai- Vais para a Europa; vais cursar uma
Universidade, provavelmente Coimbra; quero-te para homem sério e
não para arruador e gatuno.
Brás adolescente – Gatuno, eu?
Pai- Gatuno sim senhor. Não é outra coisa um filho que me faz isso.
Narrador – Sacou da algibeira os títulos já resgatados.
Pai -Vês, peralta? é assim que um moço deve zelar o
nome dos seus? Pensas que eu e meus avós ganhamos o dinheiro em
casas de jogo ou a vadiar pelas ruas? Pelintra! Desta vez ou tomas
juízo, ou ficas sem cousa nenhuma.
Narrador- O pai estava furioso, mas Brás logo pensou em dar um jeito de levar Marcela consigo para Europa. Foi falar com a moça
- Marcela, meu amor, sobrevieram me alguns contratempos e tenho que ir estudar na Europa. Quero que venhas morar comigo.
- Eu não.
- Por que não?
- Não posso,não posso ir respirar aqueles
ares, enquanto me lembrar de meu pobre pai, morto por Napoleão . . .
(Defunto)
- Em vão implorei. Ela nem me ouviu. Assim tristonho embarquei no navio disposto a suicidar-me, mas o capitão parece que adivinhava-me os pensamentos e não me abandonava nem sequer alguns instantes. Levou-me para conhecer a sua esposa tísica que acabou morrendo e sendo lançada ao mar. A simples cena do corpo sendo lançado ao mar, destituiu-me da idéia do suicídio. Cheguei a universidade e me formei um bacharel medíocre, pois dedicava pouco do meu tempo aos estudos. Estava formado quando recebi uma carta de meu pai na qual dizia:
Brás adulto_ Volte logo, sua mãe está muito mal.
- Defunto levanta- Voltei, mas mamãe acabou morrendo. Meu pai tentando conformar-me decidiu que era hora de marcar noivado e assumir vida política. Para isso, arranjou-me uma noiva chamada Virgília, e queria direcionar-me a política. Mas Virgília não era nem uma santa. Tratou de arranjar logo um pretendente mais velho e preparado para o cargo político, mas nem por isso deixou de ser companheira fiel de cama durante as longas ausências do marido, Lobo Neves,em função do cargo de deputado.
Como meu namoro com Virgília não deu certo, conheci Eugenia , uma moça linda e formosa. Estava a cortejando, quando de repente percebi que a moça tinha um pequeno defeito de natureza. Era coxa. Então pensei como Deus pudera se tal cruel de colocar uma perna coxa em uma moça de feições tão lindas. A descoberta da deficiência gerou-me ojeriza e nunca mais visitei a moça. Meu pai ao saber de seus planos frustrados desiludiu-se da via e em oito dias faleceu.. Assim, consegui conhecer a minha irmã com quem passei a herdar.
Anos mais tarde, encontrei Luis Dutra, primo de Virgília:
- Sabes quem chegou de São Paulo, hoje? Isso mesmo minha prima Virgília, casada com o Lobo Neves.
-Ah!
- E só hoje é que eu soube uma cousa, seu maganão.
- Que foi?
- Que você quis casar com ela.
- Idéias de meu pai. Quem lhe disse isso?
- Ela mesma. Falei-lhe muito em você, e ela então contou-me tudo.
( Defunto)
No dia seguinte, estando na Rua do Ouvidor, à porta da tipografia do
Plancher, vi assomar, a distância uma mulher esplêndida. Era ela; só a
reconheci a poucos passos, tão outra estava, a tal ponto a natureza e a
arte lhe haviam dando o último apuro. Cortejamo-nos; ela seguiu;
entrou com o marido na carruagem, que os esperava um pouco acima;
fiquei atônito.
Oito dias depois encontrei-a num baile; Depois de um tempo estávamos amantes.

Agora que já não faço parte desse mundo tenho prazer em confessar as minhas fraquezas.
Certa vez, Lobo Neves, marido de Virgília, chamou-me a sua casa para me falar. Confidenciou-me intimamente que desconfiava da esposa. Causou-me desconforto a revelação, mas imediatamente tratei de ressaltar as qualidades de Virgília. Como pude ser tão mesquinho.! Ai, ai, ai ia ai! E não foi só isso acabo de me lembrar de outro fato que evidencia um pouco das minhas mazelas. Já lhes conto.
Certa feita, achei um envelope no qual continha um bilhete e meio conto de reis, sem pestanejar, imediatamente remeti o bilhete para o dono que o havia perdido. Esse quando soube que eu havia lhe devolvido o bilhete juntamente com o dinheiro, louvou-me muito a honestidade. Porém em outro dia, estava eu a andar pela praia quando encontrei um embrulho no qual continha cinco contos de réis. Tratava-se de uma fortuna, eu era rico, mas mesmo assim nem procurei saber a procedência do dinheiro. Enfiei-o na algibeira e aumentei o patrimônio sem ao menos pestanejar. Conto-lhes essas coisas, pois agora, posso mostrar-lhes verdadeiramente a minha essência.
Outro fato passou-me agora pela memória: Foi o fato de D. Plácida , uma pessoa honrada e cheia de princípios aceitar o presente de uma casa com a condição de servir de álibi para nossa traição . Verdade seja dita. Todos nós somos corruptíveis, temos nosso preço.
Não tive filhos, não transmiti a nenhuma criatura o legado da minha miséria.
( O mesmo leitor do início diz: Só na morte revelamos nossa verdadeira essência, pois nessa sociedade vivemos de aparências. Gostei)

Pré-leitura de Memórias Póstumas de Brás Cubas
Levantamento de hipóteses sobre o título: Memórias Póstumas de Brás Cubas. Do que o texto vai tratar.

Leitura Expressiva do texto:
Em grupos de 8 componentes distribuam os papéis e façam a leitura expressiva do texto. Socialização das leituras.

Outras atividades de leitura:

1. Qual a temática desenvolvida pelo escritor Machado de Assis?
2. Por que o autor usou da estratégia de fazer o narrador defunto?
3. Você também acredita que na nossa sociedade vivemos mais das aparências?
4. Como são as suas relações de convivências?
5. Brás não era um sujeito totalmente honesto. Como isso se evidencia no texto em que situações e por quê?

Análise Lingüística:

1 “ Em vão implorei. Ela nem me ouviu. Assim tristonho embarquei no navio disposto a suicidar-me, mas o capitão parece que me adivinhava os pensamentos e não me abandonava nem sequer alguns instantes. Levou-me para conhecer a sua esposa tísica que acabou morrendo e sendo lançada ao mar.” Passe a frase para a 3ª pessoa do discurso fazendo os ajustes de concordância necessários.

6 “O pai estava furioso, mas Brás logo pensou em dar um jeito de levar Marcela consigo para Europa. Foi falar com a moça
- Marcela, meu amor, sobrevieram me alguns contratempos e tenho que ir estudar na Europa. Quero que venhas morar comigo.
- Eu não.
- Por que não?
Não posso,não posso ir respirar aqueles ares, enquanto me lembrar de meu pobre pai, morto por Napoleão”. . .Passe os períodos para o discurso direto fazendo os ajustes necessários.

Diálogos entre textos.
a. Existem relações de semelhança entre os textos. Quais são e como se manifestam?
b. Faça uma resenha crítica tentando comprovar como a questão da essência e aparência perpassa as obras machadianas.

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