terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

Tinha uma lata no meio do caminho

Tinha uma Lata no meio do Caminho
Terezinha de Fátima Alves Meira

Tropeçando daqui chutando dali, ainda um pouco sonolento. Tinha que ir. Era obrigado. Não podia chegar atrasado. A rua rotineira estava mais suja do que nos outros dias.
Uma lata de cerveja virou bola. Fui chutando, chutando. Ora do lado esquerdo, ora do lado direito da rua. Cansei. Dei um chutão:tibum. Caiu no Igarapé. O pontilhão estava torto e quebrado. Fiquei olhando lá embaixo. Um fiozinho de água corria entre um montão de lixo. Não vi nenhum peixinho. Só vi a luta da pequena água querendo romper passagem . Batia em saco plástico, em latas grandes e pequenas e outras coisas, lei lá o que era, só sei que era muita coisa.
A água estava doente, amarela sem força e muito triste.
Um homem que passava por ali de bicicleta perguntou: - Menino, está querendo tomar banho no rio “Bostinha”?
Não liguei. Olhei mais uma vez para a água e vi um peixinho. Estava paradinho: as vezes queria nadar, tentava subir, tentava descer. Tive dó. Queria salva-lo
Uma mulher que vinha em minha direção empurrando um carrinho de mão cheio de lixo, subiu no pontilhão com cuidado e despejou tudo aquilo dentro do rio. O pior, em cima do peixinho. Eu quis gritar, mas a voz não saiu. A mulher se afastou cantarolando feliz da vida.
Cheguei atrasado na escola. A professora foi logo dizendo:
- Atrasado, heim, garotinho!
Sentei-me e ela continuou a aula: Nosso assunto de hoje é a preservação do meio ambiente. E ela falava, falava sobre os rios, sobre o solo, as queimadas, o desmatamento etc.
Arrisquei uma pergunta, quer dizer, quase:
- Professora, a senhora conhece o rio “Bos...”?
- O que menino?
- Nada não, professora.
- Então não atrapalha a aula.
Alguns alunos riram.
- Silêncio, crianças! Prestem atenção na aula!
Era impossível. O peixinho estava lá, agora, sufocado no lixo, talvez morto. Eu queria estar lá, descer o barranco, retirar o lixo e salvar o bichinho. Era nisso que eu pensava.
- Ei garoto, além de chegar atrasado na aula, parece estar “no mundo da lua”, será que podemos morar lá?
Foi a aula mais chata e comprida daquele ano. Eu queria mesmo era salvar o peixinho e tirar a latinha que eu tinha chutado lá.
Fui andando devagar para que os outros alunos se distanciassem. Eles iam na maior algazarra, jogavam papel de bala, chiclete, sacolinhas de gelinho, iogurte etc. As ruas iam ficando imundas.
Desci o barranco. Atolei até os joelhos na lama. Fui retirando lixo para um lado, bem devagar para na machucar o peixinho.Foi inútil. Ele não estava lá, nem vivo, nem morto. Fui até a latinha, e que surpresa, lá ao lado da lata, estava ele, cansado. Abria e fechava a guelra sem parar . Fiquei olhando para o peixinho . Dobrei o corpo para fazer sombra nele. Parece que ele gostou.
De repente, fui atingido por um jato de uma coisa esquisita e fedorenta, quase insuportável. Olhei para cima e vi que era um cano de descarga de banheiro. Eu vi outros e outros, dos dois lados do rio. O peixinho sumiu no susto. A latinha eu não pude pegar. Estava melada de bos...
As aulas continuam as mesmas. O rio, depósito de lixo. Ele é um fossa. O peixinho deve estar no céu.

] Revista Mundo Jovem.
Tinha uma Lata no meio do caminho.

1. Reescreva o texto passando-o para a 3ª pessoa do discurso.
2. Estava paradinho: as vezes queria nadar, tentava subir, tentava descer. O advérbio de modo paradinho está no diminutivo, por quê?
3. Porque o apelido do rio era assim? E aparece entre aspas?
4. Qual é o autor do texto?
5. Qual é o suporte do texto?
6. Qual a intenção do autor de criar essa história?
7. Faça o resumo da história.
8. O texto em questão é um texto narrativo. Por quê?
9. Qual a problemática levantada pelo texto?
10. Comente o título? Ele lhe faz lembrar um poema?
11. Que tipo de narrador tem a história?
12. Imagine que a latinha seja de um tipo de refrigerante de uma nova marca. Faça um classificado para um jornal.
13. Imagine que a latinha pudesse falar conte a sua história desde o princípio
14. Faça uma fábula sobre a questão ambiental.
15. Desenvolva as frases em parágrafo:
a) O grande desenvolvimento das cidades é um problema.
b) O metrô é um dos mais eficientes sistemas de transporte, principalmente, nos grandes centros urbanos
c) O vôlei tornou-se um esporte muito popular no Brasil.
d) A reforma ortográfica é mais um problema para alunos e professores.

16. Imagine que os peixes pudessem falar, o que eles diriam àquela mulher que jogou um carrinho de lixo no riacho. Narre o diálogo que se travou naquela hora. Não esqueça de colocar as falas do narrador antes, no meio e depois das falas dos personagens.

Um comentário:

RESISTENCIA A TODA FORMA DE OPRESSÃO disse...

Professora Terezinha
sou Jean Carlos Barbosa, estudante de Pedagogia da Universidade Estadual de Feira de Santana, Bolsista de extensão do projeto de Extensão universitária - CAT ( conhecer, analisar e transformar a realidade do campo)

Não podia deixar de agradecer a Professora o sucesso que tem sido minhas oficinas de formação de professores do semiarido baiano, e a receptividade que vem tendo o texto "Tinha uma lata no meio do caminho". Grato.

janpedagogo@gmail.com