segunda-feira, 28 de março de 2016

Texto do desconversa. Carta de Elio Gaspari



  De oswaldo.cruz.edu para dilma@gov

Senhora,
Estive ontem com o doutor Adib Jatene, e ele contou que a participação do banco BTG Pactual na rede de hospitais D’Or estaria sendo vendida por algo como R$ 2 bilhões. Nesse caso, o negócio todo vale uns R$ 20 bilhões. Puxamos pela memória e vimos que o Brasil deve ter uns quatro bilionários (em dólares) que fizeram fortuna no setor de saúde. Estranha estatística. No Brasil, os bilionários são donos de hospitais ou atuam na área da saúde. Nos Estados Unidos, os bilionários dão nome a hospitais que lembram suas atividades filantrópicas. O Langone e o Sloan Kettering Memorial, em Nova York, por exemplo.
Seria de supor que a saúde no Brasil estivesse muito bem, porque em 1892, quando me formei em Medicina, não havia dono de hospital rico. Nem quando o Jatene se diplomou, em 1953. As coisas aí vão de pior a péssimas. Se vos faltasse alguma desgraça, o Brasil tem uma nova epidemia, transmitida pelo meu velho conhecido, o mosquito Aedes aegypti.
Ele empesteava o Rio de Janeiro no início do século XX, transmitindo a febre amarela. Tive mão forte do presidente e fumiguei a cidade. Não se empregavam apaniguados na saúde pública. O conselheiro Rodrigues Alves nomeou um médico sem consultar-me. Levei-lhe minha demissão, e ele desfez o ato.
A relação entre o mosquito, o vírus zika e complicações neurológicas foi sugerida em 2013. No sábado passado, o seu Ministério da Saúde anunciou que o zika matara uma criança no Ceará e reconheceu a suspeita de que tenha provocado 1.248 casos de microcefalia em bebês. Disparou-se um mecanismo neurastênico, como se a calamidade estivesse no vírus. Ela não está no zika, mas na saúde pública.
O seu diretor do Departamento de Vigilância de Doenças Transmissíveis disse o seguinte: “Não engravidem agora.” Bem que a senhora poderia avisar às brasileiras quando a gravidez deixará de ser arriscada. Levado ao pé da letra, meu colega extinguirá nossa população.
O zika provoca distúrbios neurológicos em adultos, homens, mulheres e mesmo em bebês. Alguns podem ser leves, outros, graves. Desde o ano passado, havia médicos trabalhando com a informação de que o vírus chegara ao Brasil. Ele estava aí, e posso lhe dizer que no primeiro semestre um paciente nordestino foi diagnosticado, até mesmo em São Paulo, com diversas suspeitas, menos zika. Era.
Isso é produto do descaso de um sistema de saúde onde os mosquitos parecem fazer parte do mundo dos pobres. O Aedes continua transmitindo dengue. Neste ano, já pegou 1,5 milhão de brasileiros, e esse número virou uma simples estatística. É elementar que o zika atingiu também adultos, diagnosticados sabe-se lá com o quê.
Haverá quem pense que os clientes de hospitais de bilionários estarão livres do risco. É verdade que existem doenças de pobres, mas o Aedes não trabalha com reserva de mercado. O problema está onde sempre esteve: no mosquito e na ideia de que ele só pica pobre. Ele nos trará mais surpresas.
Termino com um pedido: Troque o nome de todas as ruas que levam o meu nome para “Rua do Mosquito”. Enquanto ele matar brasileiros, o venerável Instituto Oswaldo Cruz terá o nome da praga: “Instituto Aedes Aegypti”. Assim, em vez de exaltar uma glória que não temos, lembraremos de um problema que não resolvemos.
Saúda-a o patrício, Oswaldo Cruz.
Elio Gaspari  - Site desconversa.

 1. Estamos diante de um gênero textual chamado:

a) artigo de opinião
b) carta argumentativa
c) crônica
d) reportagem.


2. Leia as afirmativas em relação ao texto I e componha a resposta certa assinalando:
I. O tom do texto é irônico, pois o suposto autor já é a muitos anos falecido e o problema ainda não foi resolvido.
II.  A finalidade do texto é criticar a falta de solução por parte das autoridades da saúde e governo dos problemas causados pelo mosquito Aedes Aegypti.
III. A autoria da carta é de Osvaldo Cruz
IV. A autoria da carta é de Elio Gaspari

a) Se apenas as alternativas I e II estiverem corretas
b) Se apenas as alternativas II e III estiverem corretas
c) se as alternativas I, II e III estiverem corretas.
d) Se as alternativas I, II e IV estiverem corretas.


3. Em relação ao 1º parágrafo assinale a alternativa que não condiz com o texto:
a) O Eu narrativo da carta é o médico Osvaldo Cruz.   “Estive conversando com...”
b) O teor da conversa seria a estatística de que as pessoas ricas mais ricas do país são donas de hospitais ou trabalham na área da saúde.
c) Nos Estados Unidos os mais ricos também são donos de hospitais
d) Os bilionários americanos dão nomes aos hospitais por suas atividades filantrópicas.

4. Assinale quem se formou em 1892.

a) Adib Jatene
b) Osvaldo Cruz
c) Elio Gaspari
d) Rodrigues Alves


5. . Assinale a alternativa que indica o tempo e modo dos verbos estar e contar, na 1ª linha do 1º parágrafo do texto

a) presente do indicativo
b) pretérito perfeito do indicativo
c)  pretérito imperfeito do indicativo
d) futuro do presente do indicativo


6.  Assinale a alternativa que indica o tempo e modo dos verbos estar e faltar, no 2º parágrafo do texto

a) presente do indicativo
b) presente do subjuntivo
c) futuro do presente do indicativo
d) pretérito imperfeito do subjuntivo


7. “Ele empesteava o Rio de Janeiro no início do século XX, transmitindo a febre amarela.”  Na frase indique o termo referido pela expressão em destaque.

a) Osvaldo Cruz
b) o mosquito Aedes aegypti.
c) a febre amarela
d) o Zika vírus.


8. “Ele empesteava o Rio de Janeiro no início do século XX, transmitindo a febre amarela.”   Classificamos morfologicamente a expressão em destaque como:

a) pronome pessoal do caso reto
b) pronome pessoal do caso oblíquo
c) pronome demonstrativo
d) pronome interrogativo


9. Na frase: “. Se vos faltasse alguma desgraça, o Brasil tem uma nova epidemia, transmitida pelo meu velho conhecido, o mosquito Aedes aegypti.” A conjunção em destaque estabelece na frase uma relação de:

a) tempo
b) adição
c) condição
d) concessão.



10. Na frase: “Enquanto ele matar brasileiros, o venerável Instituto Oswaldo Cruz terá o nome da praga: “Instituto Aedes Aegypti”.”  A conjunção em destaque estabelece na frase uma relação de:

a) tempo
b) adição
c) condição
d) modo


11. Leia as afirmativas em relação ao texto I e componha a resposta certa assinalando:
I. Entre as complicações neurológicas do zika vírus está a microcefalia.
II.  A calamidade está na saúde pública, pois pouco se sabe sobre o zika  vírus  como diagnosticá-lo e trata-lo  de modo a evitar suas possíveis complicações.
III. Se as mulheres brasileiras esperarem momento oportuno para engravidarem, esse momento não existirá e a população se exterminará.
IV. O Zika vírus é doença de pobre.

a) Se somente a afirmativa I estiver correta.
b) Se somente a afirmativa II estiver correta.
c) Se somente a afirmativa III estiver correta.
d) Se somente a afirmativa IV estiver incorreta


12.  Na frase: “Haverá quem pense que os clientes de hospitais de bilionários estarão livres do risco.” .  Assinale a alternativa que indica o tempo e modo dos verbos em destaque na frase.

a) presente do indicativo
b) presente do subjuntivo
c) futuro do presente do indicativo
d) pretérito imperfeito do subjuntivo

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